O III Reich e o Brasil

As relações entre o III Reich e o Brasil costumam ser avaliadas de forma amadora pela historiografia brasileira. Seja por falta de recursos, metodologia deficiente, ou mesmo por comodidade, tais relações geralmente são descritas somente com base em textos da diplomacia nacional, norte-americana, e em fontes secundárias.

Por razões óbvias, sem levar em consideração o ponto de vista da diplomacia germânica, o destino desses estudos tende a desaguar num lugar-comum repleto de conclusões com viés ideologizado.

Ao pesquisador das relações entre o Brasil e o regime nazista, desprovido de tempo/recursos para a pesquisa in loco no gigantesco volume documental no Bundesarchiv (Alemanha) ou no NARA (EUA ou Inglaterra), recomenda-se a leitura de O III Reich e o Brasil (Editora Laudes S.A. 1968).

A obra é um extrato de um grande trabalho de tradução realizado nos arquivos oficiais alemães capturados após a guerra, conduzido por uma equipe de editores e tradutores norte-americanos, franceses e ingleses nos anos 1960.

Os dois volumes desta coleção oferecem a tradução para o português de documentos de suma importância para a compreensão deste período histórico. Entre eles figura a correspondência oficial entre Berlim e suas embaixadas no Rio de Janeiro, e em outras capitais do continente; o que o embaixador alemão dizia a Hitler sobre o Brasil, Vargas e os integralistas, informações sobre os brasileiros de origem alemã no sul do país; e as instruções de Hitler ao seu embaixador no RJ.

Ao contrário do que sugere a parcela majoritária da cultura nacional — da historiografia até o cinema — sobre a relação entre o Estado Novo e o regime nazista, evidencia-se um claro repúdio do governo Vargas aos planos alemães no Brasil — inclusive sua política racialista. (download de trechos do livro aqui: 1 e 2 ).

O III Reich e o Brasil dá ao historiador uma oportunidade rara: conhecer o pensamento dos dirigentes nazistas sobre os brasileiros sem intermediários.