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No limiar da guerra


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Há exatos 73 anos, a imprensa nacional e internacional, destacava em suas manchetes de capa os primeiros ataques da aviação brasileira contra submarinos do Eixo. As informações foram elaboradas por Joaquim Pedro Salgado Filho, Ministro da Aeronáutica.

Segundo o ministro, três submarinos do Eixo haviam sido atacados no mês de maio por aeronaves da Força Aérea Brasileira no litoral do Nordeste, sendo um submersível afundado. Tal versão vem sendo repetida na historiografia brasileira há mais de sete décadas; contudo, ela não descreve com perfeição a realidade dos fatos.

O primeiro desses ataques aconteceu em 22 de maio de 1942, realizado por um bombardeiro B-25 “Mitchell”, que decolara do Agrupamento de Aviões de Adaptação, em Fortaleza, Ceará. Os dois ataques seguintes aconteceram cinco dias depois, também conduzidos por aeronaves desta mesma unidade. Entretanto, nesses três episódios, os aviadores brasileiros estavam realizando missões de treinamento, orientados por instrutores norte-americanos, em aeronaves sob o controle de Washington.

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Conforme, os entendimentos entre as duas Forças Armadas, os aviões seriam repassados aos brasileiros tão logo o ciclo de treinamento chegasse ao fim, sendo então remanejados para Recife, Natal, e outras bases. A rigor, como apenas no mês seguinte terminaria a instrução das primeiras equipes de oficiais-aviadores brasileiros,[1] todos os ataques citados foram realizados sob o controle operacional governo dos EUA. Além disso, nenhum submarino fora afundado nessas ações.

Ao que tudo indica, estes eventos parecem ter colaborado para encerrar os debates entre as equipes de oficiais e diplomatas brasileiros e norte-americanos, que desde o mês anterior tentavam, sem sucesso, chegar a um acordo quanto aos termos de um convênio secreto de cooperação militar. Entre eles, estava prevista a assistência militar dos EUA em caso de um ataque estrangeiro ao Brasil.

Era vital para Washington obter a colaboração dos brasileiros o quanto antes, pois a situação dos Aliados na guerra se tornava cada vez mais delicada. No leste europeu, a derrota da União Soviética era cada vez mais provável. Em 28 de maio, cerca de 200 mil soldados russos foram feitos prisioneiros ao término da segunda Batalha de Kharkov, abrindo as portas do Cáucaso para as cunhas blindadas alemãs.

No dia seguinte à assinatura do acordo, concretizado em 27 de maio, a DIP distribuiu à imprensa uma nota elaborada pelo Ministério da Aeronáutica, na qual Salgado Filho deu vazão ao seu relato impreciso. Confiante na proteção norte-americana ao Brasil, o rompante nacionalista provocaria sérios desdobramentos do outro lado do Atlântico.

A divulgação do ataque na imprensa internacional, em 29 de maio, logo chegou ao conhecimento do alto-comando da Kriegsmarine, que ordenou no dia seguinte ao Comando de Submarinos o planejamento do maior ataque desfechado pela Alemanha nazista contra um país das Américas: a Operação Brasil.

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Apesar das promessas do Almirante norte-americano Jonas Ingram, a reduzida força-tarefa (FT-23) sob o seu comando estava com a atenção voltada para a proteção dos comboios Aliados com destino ao Oceano Índico, e o combate aos navios piratas e rompedores de bloqueio do Eixo — longe do litoral brasileiro. A proteção à navegação nacional não era a sua prioridade.

Conforme mostram os boletins da FT-23, na data prevista para o ataque nazista os brasileiros estariam por conta própria.

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[1] LAVENERE-Wanderley, Nélson Freire. História da Força Aérea Brasileira, Rio de Janeiro: Editora Gráfica Brasileira, 1975, p.258.

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