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Desastre no Ártico

Viagem sem retorno - Escolta e navios mercantes em Hvalfjord (Islândia) antes da partida do comboio PQ-17. Centenas de marinheiros não voltariam dessa viagem (Wikimedia Commons)

Em 27 de junho de 1942, o comboio Aliado PQ-17 zarpou do Porto de Hvalfjord, na Islândia, com destino à URSS. Sua viagem ficaria tragicamente marcada na História Militar como um dos maiores desastres navais do século XX.

A ofensiva do III Reich na Europa Oriental fora sustada pelo inverno rigoroso e pelo degelo do outono. Todavia, no começo do verão no Hemisfério Norte era esperado o reinício da ofensiva alemã; por isso, os suprimentos transportados pelo comboio (armas, munição, combustível, blindados, aviões e itens diversos) eram esperados ansiosamente pelos russos. Segundo alguns analistas ocidentais, o colapso da URSS era apenas uma questão de tempo.

O PQ-17 era composto por 41 navios mercantes, sendo protegido por um forte escolta de 43 navios de guerra. Buscando evitar as bases aéreas instaladas pela Alemanha no norte da Noruega e da Finlândia, o comboio utilizou uma rota mais ao norte, afastada do continente.

Em 3 de julho, um reconhecimento aéreo verificou a partida de vários cruzadores e destróieres alemães de suas bases na Noruega (entre eles os cruzadores Tirpitz e Hipper). Temendo enfrentar um ataque da Armada alemã, no dia seguinte a escolta deixou o comboio. Sem proteção, os navios mercantes receberam ordem de dispersar. As embarcações deveriam alcançar o porto russo de Arkhangelsk de forma independente, ficando entregues à própria sorte.

Uma matilha de nove U-boots, apoiadas por esquadrilhas de bombardeiros alemães, atacou os barcos desgarrados. Foi uma carnificina. Dos 41 navios mercantes Aliados, três foram obrigados a retornar e 24 foram afundados. Apenas dez embarcações alcançaram o destino.

O Primeiro-Ministro britânico Winston Churchill chamou o evento “de o mais melancólico episódio naval em toda a guerra”. O resultado da tragédia foi a interrupção das remessas de suprimentos pela rota do Ártico. Quando Churchill informou Stalin das mudanças, o ditador ficou furioso. Os líderes russos não acreditaram que tantos navios tivessem sido perdidos. Apesar do pouco material entregue a um custo humano e material assutador, o desastre do PQ-17 rebaixou as relações anglo-russas ao seu pior nível durante o conflito, estremecendo até mesmo a confiança dos norte-americanos.

Um novo trajeto teria de ser utilizado para fazer chegar aos soviéticos o material bélico vital para resistir à ofensiva da Wermacht. Com a Europa continental em poder de Hitler e Mussolini, o Oceano Atlântico teria de ser atravessado pelos comboios, contornando o continente africano até os portos do Golfo Pérsico. A rota normal da Islândia até a URSS, com pouco mais de 1.500 milhas náuticas, foi substituída por outra que superava doze mil milhas.

O percurso alternativo aumentou exponencialmente tanto a distância a ser percorrida quanto o tempo gasto pelos transportes. Pior. Impôs aos navios mercantes uma arriscada viagem pelo estreito intercontinental, entre a América do Sul e a África, infestado pelos U-boots do Eixo.

A decisão tomada pelo Comando Aliado no começo de julho aumentou ainda mais a dependência dos portos e aeroportos do Nordeste brasileiro, colocando o Brasil de vez no tabuleiro de xadrez da Segunda Grande Guerra. Era fundamental que o Governo Vargas se juntasse aos Aliados.

A Operação Brasil estava marcada para o início do mês seguinte.

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MATERIAL ADICIONAL

- Veja a matéria publicada no website da BBC neste link.

- Consulte a ordem de batalha do comboio PQ-17.

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