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A Armada sucateada

Encouraçado Minas Gerais - Trecho de uma película rara (produzida em 1932), com destaque para o Encouraçado Minas Gerais fundeado na Baía de Guanabara. Em segundo plano está o Cruzador Bahia. A Ilha Fiscal e a cúpula da Igreja da Candelária aparecem ao fundo (Rio, The Magnificent, A. Fritzpatrick)

No final da primeira década do século XX, foram lançados ao mar dois grandes encouraçados dotados do que havia de mais moderno conforme a tecnologia da época. O destino dos navios não era a Alemanha, a Inglaterra, a Rússia ou os Estados Unidos, mas o Brasil. As belonaves faziam parte de um programa de reaparelhamento naval conduzido pelos presidentes Rodrigues Alves e Afonso Pena para dar o suporte militar à diplomacia do notável Barão do Rio Branco.

Vencendo as objeções dos EUA e dos vizinhos continentais, o Brasil encomendou uma série de cruzadores e encouraçados aos estaleiros ingleses. Todavia, o programa não seguiu adiante, pois o fim do Ciclo da Borracha esvaziou os cofres públicos. A situação ficaria crítica nos anos seguintes. Sem possuir uma indústria naval capaz de suprir as suas necessidades, a Armada continuou utilizando as mesmas embarcações por décadas. Em 1942, a Marinha de Guerra era composta praticamente pelos mesmos navios usados no começo do século, desfalcada das embarcações aposentadas pelo longo tempo de uso. Pior. Mais de 30 anos depois, as belonaves encomendadas em 1906 ainda não haviam sido pagas à Inglaterra.

Os encouraçados São Paulo e Minas Gerais constituíam a espinha-dorsal da desgastada Armada nacional. Os outrora poderosos dreadnoughts eram o símbolo de uma Força naval ultrapassada em termos materiais e tecnológicos. A propulsão com motores a diesel ainda era um sonho distante. A maior parte da frota naval brasileira era movida por caldeiras queimando óleo ou mesmo carvão. Não havia um único sonar ou radar em operação. Mesmo os aparelhos de detecção submarina pelo som eram raros. A munição antiaérea disponível para o Minas Gerais era suficiente apenas para alguns minutos de disparo. Já a pólvora dos canhões de grande porte estava vencida e, boa parte dela, sem condições de uso. As redes de proteção anti-torpedos originais já haviam se desfeito. O navio sequer dispunha de um item básico em qualquer navio: uma âncora condizente com o seu tamanho.

O quadro era semelhante nos demais navios da Armada — não raro pior. Em linhas gerais, esta era a situação da Marinha de Guerra brasileira em agosto de 1942. Em tempos de guerra, a bordo de navios obsoletos e sucateados, nossos marinheiros teriam de garantir a segurança da navegação costeira no imenso litoral brasileiro.

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